segunda-feira, 23 de março de 2015
quarta-feira, 18 de março de 2015
Jornalismo tendencioso ameaça sobrevivência do sistema Globo
A Globo caminha para a quebra. Se isso acontecer será culpa quase exclusiva de seu Departamento de Jornalismo. É que se alguém quiser se aproveitar da situação para comprar a Globo encontrará a seu favor o mais arrogante, mais pretensioso, mais insolente grupo de “formadores de opinião” como nunca se viu antes na história deste país, e com poderes ilimitados. Isso porque os donos são ausentes ou incompetentes, e nada trava a libertinagem televisiva e jornalística que se enfia goela baixo do cidadão daqui e do exterior, todos os dias, num exercício jamais observado de manipulação política pela via da emoção.
Há dois patamares no caminho da Globo para o fracasso. O primeiro é o Jornal Nacional, ligeiramente mais discreto na sua cruzada diária pela desinformação. Conduzido por William Bonner, que lembra um propagandista de sabonete, traz sempre uma mistura bem preparada de fatos e emoção direcionada para a busca de telespectadores a qualquer custo, mesmo quando esse custo significa subverter a verdade. A distorção a favor dos ricos é limitada apenas pelo medo de perder audiência no horário nobre, na medida em que grande parte dela é de famílias pobres beneficiárias dos programas sociais do PT.É no Jornal da Globo, contudo, que os noticiaristas e comentaristas da Globo saem do armário. Aí a manipulação da opinião pública passa a ser um jogo aberto. Começa com a figura burlesca de William Wack anunciando todas as pragas do Egito sobre o Brasil. Ele tem, como o JN, prazer em noticiar tragédias, coisas que comovem. Mas, com muitos graus de emoção sobre o Jornal Nacional, despeja na audiência, formada sobretudo por gente de classe média que não tem compromisso com horário no dia seguinte, o que essa audiência enviesada quer ouvir na sua sanha lacerdista de apelos hipócritas contra a corrupção.
Há dois patamares no caminho da Globo para o fracasso. O primeiro é o Jornal Nacional, ligeiramente mais discreto na sua cruzada diária pela desinformação. Conduzido por William Bonner, que lembra um propagandista de sabonete, traz sempre uma mistura bem preparada de fatos e emoção direcionada para a busca de telespectadores a qualquer custo, mesmo quando esse custo significa subverter a verdade. A distorção a favor dos ricos é limitada apenas pelo medo de perder audiência no horário nobre, na medida em que grande parte dela é de famílias pobres beneficiárias dos programas sociais do PT.É no Jornal da Globo, contudo, que os noticiaristas e comentaristas da Globo saem do armário. Aí a manipulação da opinião pública passa a ser um jogo aberto. Começa com a figura burlesca de William Wack anunciando todas as pragas do Egito sobre o Brasil. Ele tem, como o JN, prazer em noticiar tragédias, coisas que comovem. Mas, com muitos graus de emoção sobre o Jornal Nacional, despeja na audiência, formada sobretudo por gente de classe média que não tem compromisso com horário no dia seguinte, o que essa audiência enviesada quer ouvir na sua sanha lacerdista de apelos hipócritas contra a corrupção.
Mas William Wack é um casca grossa: manipula o noticiário de acordo com suas preferências pessoais, acrescentando ao sabor da notícia deformada esgares de palhaço de circo. Cabe a Sardenberg um papel aparentemente mais sutil, como me observou Jânio de Freitas, o maior jornalista político do Brasil em atividade, já que ele é mais venenoso por divulgar os conceitos da economia política favoráveis aos ricos dentro de uma carcaça insidiosa de neutralidade técnica, como todo bom charlatão. Ele agrada aos poderosos e ao mesmo tempo engana os pouco pobres que resistem a assistir a tevê até de madrugada.
O Jornal da Globo tem, portanto, uma interação intelectual e moral afetiva com ricos e poderosos. Sua eficácia, conforme Marx, está no fato de que a ideologia da sociedade é a ideologia da classe dominante. Quando a classe dominante dispõe inteiramente da mídia, sem concorrência - porque, no campo da ideologia, a quase totalidade dos maiores jornais, revistas e tevês está do lado e de mãos dada com uma direita sórdida e indiferente aos destinos da sociedade -, o campo político fica inteiramente aberto, inclusive para golpes brancos.
Poderia continuar enchendo laudas e laudas de adjetivos contra a dupla do Jornal da Globo e contra outra dupla igualmente perniciosa para a democracia, os comentaristas do jornal Globo Míriam Leitão e Merval Pereira. Este não merece muita tinta, porque é apenas ignorante – na acepção semântica da palavra. Míriam, porém, como Sardenberg, é astuta. Passa a ideia de que sabe economia, quando o que realmente sabe é identificar economistas de direita, como ela, e dar-lhes espaço franco em sua coluna diária e sórdida na Globo News.
O noticiário econômico brasileiro, de jornal e de tevê, está dominado por entrevistas e artigos de economistas de banco. Galbraith, com sua fina ironia, dizia que não se sentia à vontade para acreditar em opiniões econômicas de quem tem interesse próprio em jogo. A rede Globo e os jornalões, assim como as revistas semanais (exceto Carta Capital), apoia seu noticiário econômico em economistas de banco com o maior descaramento. Assim, são os economistas de banco que estão fazendo a cabeça de milhões de brasileiros sobre economia.
Trabalhei anos na editoria econômica do Jornal do Brasil, de que fui subeditor, e jamais entrevistei um economista de banco. Trabalhei anos como repórter econômico da Folha de S. Paulo e jamais entrevistei, para publicação, um único economista de banco. Agora são esses economistas que dominam o noticiário econômico com seus próprios interesses. Acaso é esse tipo de liberdade de expressão e de opinião publicada que interessa ao Brasil? Ou é o momento em que se deve pensar em dividir o monopólio do Globo e fomentar um novo jornal no Rio para o Brasil?
P.S. Não é do meu estilo fazer ataques pessoais. Entretanto, o Sistema Globo foi dividido em três capitanias, uma para cada herdeiro, e as capitanias em sesmarias, cada uma sob o comando de um jornalista no caso do Departamento de Jornalismo. Assim, não adianta falar, quando se trata de formação de ideologia, de um sistema global. É preciso identificar pessoalmente os donos das sesmarias jornalísticas, como procurei fazer. Não fosse tão grande o Sistema Globo, amainaria minhas críticas. Como é grande demais, e eu muito pequeno, pode perfeitamente suportar o choque!
J. Carlos de Assis*
*Jornalista e economista, doutor em Engenharia de Produção pela Coppe/UFRJ, autor de mais de 20 livros sobre a Economia Política brasileira, dos quais o último é “A Razão de Deus”.
O Jornal da Globo tem, portanto, uma interação intelectual e moral afetiva com ricos e poderosos. Sua eficácia, conforme Marx, está no fato de que a ideologia da sociedade é a ideologia da classe dominante. Quando a classe dominante dispõe inteiramente da mídia, sem concorrência - porque, no campo da ideologia, a quase totalidade dos maiores jornais, revistas e tevês está do lado e de mãos dada com uma direita sórdida e indiferente aos destinos da sociedade -, o campo político fica inteiramente aberto, inclusive para golpes brancos.
Poderia continuar enchendo laudas e laudas de adjetivos contra a dupla do Jornal da Globo e contra outra dupla igualmente perniciosa para a democracia, os comentaristas do jornal Globo Míriam Leitão e Merval Pereira. Este não merece muita tinta, porque é apenas ignorante – na acepção semântica da palavra. Míriam, porém, como Sardenberg, é astuta. Passa a ideia de que sabe economia, quando o que realmente sabe é identificar economistas de direita, como ela, e dar-lhes espaço franco em sua coluna diária e sórdida na Globo News.
O noticiário econômico brasileiro, de jornal e de tevê, está dominado por entrevistas e artigos de economistas de banco. Galbraith, com sua fina ironia, dizia que não se sentia à vontade para acreditar em opiniões econômicas de quem tem interesse próprio em jogo. A rede Globo e os jornalões, assim como as revistas semanais (exceto Carta Capital), apoia seu noticiário econômico em economistas de banco com o maior descaramento. Assim, são os economistas de banco que estão fazendo a cabeça de milhões de brasileiros sobre economia.
Trabalhei anos na editoria econômica do Jornal do Brasil, de que fui subeditor, e jamais entrevistei um economista de banco. Trabalhei anos como repórter econômico da Folha de S. Paulo e jamais entrevistei, para publicação, um único economista de banco. Agora são esses economistas que dominam o noticiário econômico com seus próprios interesses. Acaso é esse tipo de liberdade de expressão e de opinião publicada que interessa ao Brasil? Ou é o momento em que se deve pensar em dividir o monopólio do Globo e fomentar um novo jornal no Rio para o Brasil?
P.S. Não é do meu estilo fazer ataques pessoais. Entretanto, o Sistema Globo foi dividido em três capitanias, uma para cada herdeiro, e as capitanias em sesmarias, cada uma sob o comando de um jornalista no caso do Departamento de Jornalismo. Assim, não adianta falar, quando se trata de formação de ideologia, de um sistema global. É preciso identificar pessoalmente os donos das sesmarias jornalísticas, como procurei fazer. Não fosse tão grande o Sistema Globo, amainaria minhas críticas. Como é grande demais, e eu muito pequeno, pode perfeitamente suportar o choque!
J. Carlos de Assis*
*Jornalista e economista, doutor em Engenharia de Produção pela Coppe/UFRJ, autor de mais de 20 livros sobre a Economia Política brasileira, dos quais o último é “A Razão de Deus”.
O que antipolítico tem a ver com ditadura
O antipolítico tem a ver com ditadura: Por Paulo Moreira Leite, em seu blog : Um número considerável de cidadãos tem comemorado o tratamento agressivo recebido pelos polític...
Agência Social organiza a sua I Conferência Internacional sobre o Cerrado
Será no mês de setembro, em Brasília-DF, no período de 23, 24, 25 e 26 de setembro de 2015, com a finalidade de mostrar a realidade do Cerrado Brasileiro, sua importância estratégica e a necessidade de que este bioma seja considerado patrimônio nacional.
Inscrições abertas

Entidades, coletivos, movimentos sociais, pesquisadores e ativistas autônomos poderão inscrever, até o dia 23/3, propostas de atividades autogestionadas para o 2º Encontro Nacional pelo Direito à Comunicação (ENDC). As atividades poderão ser temáticas (palestras, mesas-redondas, debates, oficinas, rodas de conversa e exposição de trabalhos acadêmicos) ou culturais (cênicas, musicais, performáticas, literárias e audiovisuais). Os interessados poderão inscrever suas propostas pela Internet (aqui)
A adaga dos covardes, ou, O limite da imbecilidade direitista
Por Mauro Luis Iasi
Um amigo libanês, pintor de primeira e bruxo militante, mostrou-me certa vez uma adaga em uma bainha de prata ricamente trabalhada com uma inscrição em árabe que ele traduziu. A frase alertava ao portador da arma que seria sábio quem não a desembainhasse, mas aquele que o fizesse não usando a arma seria um covarde.
A delicada conjuntura em que nos encontramos está cheia de blefes, o que torna difícil a análise. A direita ameaça com o impedimento da presidente, um ex-presidente ameaça colocar o “exercito” de outros para defender o seu governo, outro ex-presidente tece pendores democráticos e de respeito a legalidade enquanto seu partido conspira na direção oposta.
Como sempre, para superar a borbulha enganosa da aparência, é necessário descer às determinações de classe e aos interesses em jogo.
[TRÊS BLEFES]
O equilíbrio do governo de pacto social sempre foi difícil uma vez que supõe poder conciliar o que é inconciliável, isto é, os interesses de classe opostos de trabalhadores e burgueses. A engenharia possível pressupõe uma certa estabilidade econômica e uma governabilidade negociada por meio de cargos no governo, favorecimentos eleitorais e emendas ao orçamento para responder aoslobbies por trás (pela frente e por todos os lados) dos digníssimos parlamentares eleitos e se completa com a ação de governo que garante as condições para a acumulação de capitais em proporções adequadas. Enquanto isso acena aos trabalhadores com a miragem da inserção na sociedade de mercado via garantia dos níveis de emprego e salário, acesso ao crédito e programas compensatórios de combate às manifestações mais agudas da miséria absoluta.
O mais importante é que funciona enquanto a burguesia deseje que funcione.
Por um tempo funcionou e reconduziu os governos petistas em três mandatos consecutivos. O quarto mandato chegou de raspão com o país dividido praticamente ao meio. Um congresso nacional ainda mais conservador, uma oposição fortalecida e um PMDB como fiel da balança e representando a condição, mais que nunca, para a governabilidade. Uma receita para a instabilidade, toda a negociação anterior e durante a campanha eleitoral se torna insuficiente. O PMDB exige mais espaço (Lula se apressa em afirmar que concorda com o pleito), mas também mais protagonismo e mais independência. Ganha a presidência da Câmara com Cunha e endurece a negociação sobre a composição do governo e o orçamento abrindo margem para chantagear a presidência.
Aqui o primeiro blefe. O PMDB tem a vice presidência e vários ministérios chaves. Controla um quinhão invejável no segundo e terceiro escalões, governos de estado que por sua vez dependem de projetos e verbas federais, assim como de favores eleitorais dos mais diversos. Tem pouca chances de um vôo solo como alternativa e suas chances estão ligadas ao sucesso do governo que enfraquece para negociar melhor.
O PSDB, histrionicamente bradando contra o governo com o cacife de uma oposição que garfou mais de 48% dos votos no último pleito, também se encontra em posição problemática. Não pode atacar o governo pelas medidas impopulares assumidas, pois as defendeu abertamente na campanha. Da mesma forma tampouco pode se dar ao luxo de se contrapor à linha geral da condução da economia e do Estado, pois no essencial respeita os compromissos macro econômicos, a premissa sacrossanta do superávit primário, a lógica privatista e mercantilizadora da vida… Escolheu a centralidade dos escândalos e da corrupção, mas convenhamos, é um terreno em que o PSDB não tem só o telhado de vidro, mas uma casa todinha de vidro. Basta lembrar a forma como foi feita a privatização das tele-comunicações sob a batuta do falecido Serjão, a entrega da Vale do Rio Doce, as contas não tão secretas em paraísos fiscais, para não falar do metrô de São Paulo e outras aventuras conhecidas.
Eis o segundo blefe. Alardeia-se o combate à corrupção, torcendo para que a apuração rigorosa e profunda, “doa a quem doer”, não chegue muito perto da mão que acusa, como o caso do HSBC parece indicar. Se o caos interromper o mandato da presidente e gerar dividendos eleitorais ao PSDB, ótimo para eles, mas não se pode fritar muito de modo que a fumaça não sufoque a todos na cozinha do Estado burguês. Qualquer alternativa de governo do PSDB passa pela negociação com o PMDB, daí o dilema: como queimar a gordura do PT sem tostar o bife do PMDB?
Por isso o escudeiro do caos, Aloysio Nunes e outros asseclas, vão às ruas pelo “sangue” de Dilma Rousseff, enquanto FHC e Aécio Neves, pedem um pouco mais de calma. Afinal, somos todos civilizados, não é?
[A APOSTA PETISTA]
O governo, um tanto quanto desorientado, pois julgava que bastava a mera repetição do mesmo procedimento anteriormente exercitado e uma base sólida no Congresso para escapar do pior da crise, tateia erraticamente. Antes das eleições sua prioridade era recompor uma base e compensar as defecções, como as PSB e PTB, mas, prioritariamente mostrar-se confiável aos financiadores de campanha: as empreiteiras, os bancos, os industriais, o agronegócio, em suma, os donos do governo. As alianças, o programa e o perfil da campanha não deixaram margem à dúvida desta prioridade.
No entanto, a polarização da campanha contra o PSDB (Marina foi um episódio inflado que não se manteve) obrigou os petistas a desenterrar o discurso da luta entre ricos e pobres, do fantasma do passado e, na reta final, produzir um factóide diversionista segundo o qual trata-se de um embate de projetos que contrapunha de um lado uma direta privatista, que atacaria os direitos dos trabalhadores e reverteria as “conquistas” alcançadas, e de outro uma proposta progressista que enfrentaria a crise com crescimento (o que implicava, por sua vez, a manutenção da generosa ajuda aos capitalistas) e não realizasse ataques aos direitos dos trabalhadores.
Vejam que o governo agiu com uma certa sinceridade. Precisava atrair os setores sociais (por isso o discurso), mas não podia romper com suas alianças e com as exigências de seus patrões (por isso a manutenção do rumo geral conservador). Não é esse o blefe do governo. É que tem gente que quer tanto uma coisa que a projeta na realidade como se realidade fosse…
O problema é que passada as eleições, os setores sociais e movimentos populares que generosamente se dispuseram a votar na candidata “mais progressista” para evitar a direita, se viram diante do constrangimento de um governo que moveu-se rapidamente para implementar tudo aquilo que a direita perversa propôs. Os movimentos sociais e populares já tinham cumprido sua função, agora era o momento da incrível arte do pragmatismo político no qual o governo do PT tinha que gerar as condições para manter-se no governo até o final e, quem sabe, um próximo mandato. Nesta direção era necessário recompor a base, acertar a vida com o Congresso e tomar as medidas amargas contra os trabalhadores para garantir a continuidade da política de superávits primários e a sangria de recursos do fundo público para o capital financeiro.
Evidente que isso gerou um descontentamento muito grande, mas aqui fico na incômoda posição de defender a presidente Dilma. Ela falou que ia fazer isso, era evidente que faria. Os setores sociais que apostaram, com razões louváveis e algumas até justificadas, nesta opção estão descontentes com a imagem que criaram e não com o real efetivo. Acontece com torcidas de futebol, com relacionamentos amorosos… acontece também com projetos políticos. Já cantava Chico com as palavras de Ruy Guerra:
“Se trago as mãos distantes do meu peito
É que há distância entre intenção e gesto
E se o meu coração nas mãos estreito,
Me assombra a súbita impressão de incesto”.
É que há distância entre intenção e gesto
E se o meu coração nas mãos estreito,
Me assombra a súbita impressão de incesto”.
…e até o Chico acreditou!
Certos movimentos sociais, setores populares e segmentos de esquerda literalmente não negociaram nada. Daí o qualificativo “generosamente” ao tratar do apoio oferecido. O Governo não se comprometeu formalmente com nenhum dos pontos que constituem a fantasia imaginada de uma inflexão à esquerda. Pelo contrario, deu o tempo inteiro mostras que não alteraria o rumo da política que enterrou a reforma agrária em benefício do agronegócio, os direitos trabalhistas em nome das condições favoráveis ao crescimento da economia capitalista, a privatização contra as políticas públicas, o acordo com os fundamentalistas religiosos descartando a luta contra a homofobia e outras pautas, a conivência com velhas formas políticas contra uma verdadeira mudança das regras do fazer política na direção dos interesses populares.
[A VELHA DIREITA]
Aqui é que começa o problema. Apesar de ter cedido em tudo… tudo mesmo, ao que a ordem burguesa exigiu, o governo de pacto social do PT continua ameaçado. Ocorre é que a metáfora da adaga aqui se torna limitada. Não estamos diante de um instrumento nas mãos de um sujeito, mas de uma dinâmica política que uma vez desencadeada ganha certa autonomia. Os sujeitos políticos são compósitos, formados por fragmentos, facções segmentos que reproduzem em ponto menor o dilema da sociabilidade burguesa: a contradição entre interesses individuais particulares e interesse geral.
Nenhum ator particular que desembainhou a adaga parece de fato querer oimpeachment, mas parece que a adaga quer. Em tempos de fetichismo absoluto, um fenômeno desses não devia nos espantar. É verdade que a burguesia monopolista em suas diferentes facções (industrial, bancária, agrária, comercial, etc.) nunca ganhou tanto e prescreveu o remédio que seus funcionários no governo estão zelosamente administrando. Precisa de estabilidade institucional, teme reviravoltas que possam colocar em risco, real ou potencial, a ordem. Mas adorariam encerrar este ciclo de governos petistas. E se houver possibilidade, porque não?
O mesmo pode ser dito do imperialismo. Alguns governistas afoitos e seu exercito de dedos nervosos nas redes sociais, desenterraram o imperialismo como o sujeito oculto da desestabilização. Ora o imperialismo sempre pensa em cenários e a desestabilização nunca ficou fora da pauta. A pergunta é: como se pensou nestes doze anos enfrentar esta evidência? Armando o povo, preparando as forças armadas e buscando aliados, como na Venezuela? Ou se mostrando confiável e evitando se apresentar como responsável, como nos governos Lula e Dilma, e fazendo um acordo militar com os EUA, mobilizando e dirigindo tropas de intervenção no Haiti?
Impedimentos e interrupções institucionais não são utilizados apenas contra governos de “esquerda” ou de um reformismo potencialmente perigoso à ordem capitalista (duas coisas que o governo do PT não representa nem remotamente) mas também contra governos que já cumpriram sua função e passaram a se tornar incômodos. É o que aconteceu quando surgiu a necessidade de interromper o Estado Novo getulista ou a autocracia burguesa no final dos anos 1970.
A grande burguesia e o imperialismo lucraram com o ciclo petista, mas não lutarão para defendê-lo se ele ameaçar ir para o ralo. A burguesia não é fiel, nem monogâmica. Nunca foi. Não será agora que irá mudar sua natureza.
A expressão política da burguesia tem, no entanto, outros problemas. A ocupação do espaço político central pelo PT lhe rouba sua essencialíssima função na vida. Ela precisa encontrar um meio de se livrar do PT porque este ocupa o lugar que por coerência seria o seu, por isso quer aproveitar toda chance possível. Sua responsabilidade com os interesses de classe da grande burguesia monopolista faz com que ela hesite, assim como o medo de, no chumbo trocado das acusações, colocar em risco a ordem instituída. Mas ela tem a obrigação de tentar, porque disso depende sua sobrevivência.
[A EXTREMA DIREITA]
Isso é diferente quando se trata da extrema direita. Ela é o cachorro louco da burguesia. É incômoda e caricatural, mas útil. Não pede licença para pôr fogo no circo. Em épocas normais a burguesia a mantém presa na jaula do Estado de Direito, mas a crise é seu habitat natural. Isolada ela é só pitoresca, como nas marchas que andou ensaiando pelo país. Mas, num certo caldo de cultura, se alimenta do irracionalismo e do conservadorismo, cresce e pode se tornar uma ameaça, mesmo um incômodo para seus donos.
A extrema direita foi às ruas e ganhou dimensão massiva nos últimos protestos pelo impeachment. A extrema direita quer o impedimento da presidente, se possível seu fuzilamento e a exumação do corpo de Marx para ser fuzilado também. Parece que descobriram o motivo do desmonte da educação no Brasil, é um perigoso terrorista de barbas longas (sem turbante) chamado Paulo Freire.
[O BLEFE PETISTA]
Diante deste cenário intricado o PT mantém-se fiel à sua ação aparentemente errática. Faz todos os esforços para garantir a credibilidade diante do grande capital e de seus aliados de direita, que constituem a base operacional de seu governo; ao mesmo tempo em que precisa mobilizar suas “bases sociais” (de fato eleitorais) para não virar presa fácil contra aqueles que querem sua queda.
Neste ponto a coisa fica ridícula. O governo impõe as chamadas medidas de austeridade e ataca diretamente os direitos dos trabalhadores. O principal partido do governo (talvez o segundo na linha hierárquica depois do PMDB) – o PT – aprova por maioria as medidas de austeridade propostas, e o ex-presidente Lula conclama que elas são necessárias e não atacam os direitos dos trabalhadores. Ao mesmo tempo conclama suas “bases sociais” (na verdade, em parte aparelhos burocráticos que um dia foram organizações independentes da classe trabalhadora) para atos em defesa do governo, mas contra as medidas de austeridade… do mesmo governo… que implementa as medidas… Estão acompanhando?
Ora, aqui também não se deve culpar o PT. Ele não pode fazer outra coisa. Os setores que, com razões honestas, queriam uma guinada à esquerda estão trabalhando com o desejo, não com a realidade. Este seria o caminho mais rápido para o impeachment. O governo jamais fará isso. Todos sabem. Desde os que sinceramente gostariam que o governo fosse mais à esquerda, até os governistas mais renitentes que acham que tudo está certo e não há nada a ser corrigido.
Este é o blefe.
Mobilizam as massas, mas para apassivá-las. As mobiliza para usá-las como instrumento em seu jogo e não como força própria em busca de seus próprios interesses de classe. É para ameaçar seus aliados e adversários. Desembainha uma adaga que não pretende usar.
A direita chama um ato pelo impeachment. Lógico que a extrema direita se anima. Mas as lideranças estão preocupadas, seus nomes andam sendo divulgados pelas listas dos envolvidos nos atos de corrupção. FHC pede calma, não é hora de impeachment. Michel Temer sorri ao lado dos presidentes do Senado e da Câmara (os dois na lista) na arte de fazer de conta que ele não tem nada haver com isso.
Na mais alta temperatura do acirramento, escuto a notícia que Dilma propôs um pacto… com o PSDB… que não aceitou… mas, está pensando. Depois do domingo amarelo… duvido.
No meio disso uma população tentando entender o que está acontecendo. De um lado, um cara com uma adaga bradando – “vou te meter um impeachment no bucho!” – (lógico, com muita calma para não prejudicar os negócios), de outro um senhor que pregava a paz e o amor e que adora dizer que banqueiros nunca ganharam tanto em seu governo ameaçando chamar as massas para uma rebelião (lógico, desde que não atrapalhe o bom relacionamento da ministra do agronegócio com a presidente e as medidas de austeridade, que na verdade são necessárias… não é?).
De um lado os governistas chamam um ato contra as medidas de austeridade que atacam os trabalhadores e em defesa do governo que as aplica, de outro a direita que quer derrubar o governo “esquerdista”, mas aprova as medidas.
E vocês querem que os trabalhadores entendam isso? Lá na consciência imediata da classe trabalhadora uma faxineira explica ao repórter de um jornal paulista porque aderiu as vaias contra a presidente diante de seu pronunciamento (no qual disse que era preciso coragem para aplicar as medidas contra os trabalhadores propostas por seu ministro Levy) e diz:
“Querem saber o motivo da vaia? É simples: estou cansada de trabalhar e não ter nada”.
Outro trabalhador é ainda mais direto:
“Ela mexeu nos direitos do trabalhador. Falou a campanha inteira que não ia e fez”.
(“Após manifestação de ‘peões’, empresária defende petista“, Folha de S. Paulo, 11/03/2015, por Juliana Sayuri e Daniela Lima)
[A PERGUNTA QUE NÃO SE CALA]
Que a direita e a extrema direita se comportem como tal é compreensível e esperado. A pergunta que precisa ser respondida é por que ela ganha apoio de amplos setores de massa. A resposta cômoda para o governismo defensor do pacto social é simplista, trata-se de quem votou e quem não votou na Dilma. Típico de quem abandonou o referencial de classe para pensar em eleitores. Trata-se perigosamente de um momento onde os anseios e inquietações de setores dos trabalhadores estão sendo capturados pelo ideário conservador e de direita.
E que ideário é esse? A rede Globo em mais uma demonstração de miséria jornalística tenta enquadrar a realidade no molde de seu jornalismo de desinformação, transformando o circo de horrores da direita na rua no dia 15 em uma “festa da democracia” e perguntando aos inquietos e perdidos ministros Rosseto e Cardoso como o governo responderia às “demandas da ruas”, a “voz das ruas”, o “grito das ruas”. Apesar da emissora (que recebeu auxílio governo petista para não quebrar) tentar reapresentar o samba de uma nota só da corrupção, as “ruas” gritavam coisas como: “pela intervenção militar”, “morte aos comunistas”, “em defesa do feminicídio”, “pela maioridade penal”, “contra as doutrinações marxistas nas escolas”. Algumas demandas, para facilitar o entendimento, escritas em inglês e francês.
Vejam, com todos os problemas das Jornadas de 2013 podíamos ver ali como central um conjunto de demandas como a defesa do transporte público, contra os gastos com os eventos esportivos, contra a violência da política militar, a denúncia dos limites desta pobre democracia representativa. Ainda que houvesse por um tempo, a tentativa de contrabando das bandeiras direitistas elas foram sendo isoladas das manifestações. Agora elas dão o tom e organizam grandes manifestações em defesa da barbárie.
Interessante notar que as Jornadas de 2013 forma violentamente reprimidas e o senhor Cardoso, Ministro da (in)Justiça, se apressou a cercar de garantias legais a ilegalidade da repressão e criminalização dos movimentos. Já no festival da extrema direita anti-comunista a policia militar tirava fotos e selfies com os animados participantes vestidos com a camisa da CBF, enquanto à noite o Ministro dizia que precisamos respeitar as manifestações porque são democráticas.

Meu barbeiro, filho de operário eletricitário, que se animou com a campanha das diretas porque queria votar para presidente, diz que este governo precisa acabar porque senão vai implementar aqui um regime parecido com o da Venezuela e sugere duas alternativas: entregar o Brasil para ser administrado pelos EUA ou devolver aos índios (eu sugeri que ele insistisse na segunda alternativa).
O mais surpreendente, no entanto, foi sua conclusão diante das minhas ponderações. Com o olhar sério e aquela autoridade que só possui quem segura uma navalha afiada em sua garganta, ele concluiu: “Sabe, eu acho que ninguém quer o impeachment, o que eles querem é deixar este governa sangrar por quatro anos para depois derrotá-lo de uma vez por todas nas próximas eleições”.
Sabe do que mais, acho que meu barbeiro está certo. Feito isso, pegou a navalha e aparou o que restava de cabelo na minha nuca, limpando a espuma em um pano. Lá na rua ainda se ouvem os gritos de combatentes segurando suas adagas cegas que não pretendem usar… “olha que eu te furo”… “não se eu te furar primeiro”… enquanto se prepara o acordo.
http://jornalggn.com.br/noticia/a-adaga-dos-covardes-ou-o-limite-da-imbecilidade-direitista-por-mauro-iasi
***
Mauro Iasi é professor adjunto da Escola de Serviço Social da UFRJ, pesquisador do NEPEM (Núcleo de Estudos e Pesquisas Marxistas), do NEP 13 de Maio e membro do Comitê Central do PCB. É autor do livro O dilema de Hamlet: o ser e o não ser da consciência (Boitempo, 2002) e colabora com os livros Cidades rebeldes: Passe Livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil e György Lukács e a emancipação humana (Boitempo, 2013), organizado por Marcos Del Roio. Colabora para o Blog da Boitempo mensalmente, às quartas.
Altamiro Borges: O real motivo da perseguição a Dirceu
Altamiro Borges: O real motivo da perseguição a Dirceu: Por Paulo Nogueira, no blog Diário do Centro do Mundo : Um jornalista americano escreveu uma coisa que me marcou profundamente. Ele diss...
“EUA promovem desestabilização de democracias na América Latina”, denuncia Moniz Bandeira


Em entrevista por e-mail ao portal PT na Câmara, ele citou iniciativas do PT que contrariam Washington, como a criação do Banco do Brics , uma alternativa ao FMI e ao Banco Mundial, e o regime de partilha para o pré-sal, que conferiu papel estratégico à Petrobras, deslocando as petroleiras estrangeiras. Ele lembrou também que a presidenta Dilma foi espionada pela NSA e não se alinhou com os EUA em outras questões de política internacional, entre as quais a dos países da América Latina.
Leia abaixo a entrevista completa:
O líder do PT na Câmara, Sibá Machado (AC), comentou nas redes sociais que a CIA tem atuado nas tentativas de desestabilização de governos democráticos na América Latina. Como o senhor avalia isso, diante de vários episódios históricos que mostram os EUA por trás da desestabilização de governos de esquerda e progressistas?
Moniz Bandeira – Washington há muito tempo cria ONGs com o objetivo de promover demonstrações empreendidas, com recursos canalizados através da USAID, National Endowment for Democracy (NED) e CIA; Open Society Foundation (OSF), do bilionário George Soros, Freedom House, International Republican Institute (IRI), sob a direção do senador John McCain etc. Elas trabalham diretamente com o setor privado, municípios e cidadãos, como estudantes, recrutados para fazerem cursos nos EUA. Assim o fizeram nos países da Eurásia, onde de 1989 ao ano 2000 foram criadas mais de 500.000, a maioria das quais na Ucrânia. Outras foram organizadas no Oriente Médio para fazer a Primavera Árabe.
Protesto contra o governo no dia 15 de março (Foto: Maíra Streit)

Essa estratégia baseia-se nas doutrinas do professor Gene Sharp e de Political defiance, i. e., o desafio político, termo usado pelo coronel Robert Helvey, especialista da Joint Military Attache School (JMAS), operada pela Defence Intelligence Agency (DIA), para descrever como derrubar um governo e conquistar o controle das instituições, mediante o planejamento das operações e mobilização popular no ataque às fontes de poder nos países hostis aos interesses e valores do Ocidente (Estados Unidos).
Essa estratégia pautou em larga medida a política de regime change, a subversão em outros países, sem golpe militar, incrementada pelo presidente George W. Bush, desde as chamadas “revoluções coloridas” na Europa e Eurásia, assim como na África do Norte e no Oriente Médio. Explico, em detalhes e com provas, como essa estratégia se desenvolve em meu livro A Segunda Guerra Fria, e, no momento estou pesquisando e escrevendo outra obra – A desordem mundial – onde aprofundo o estudo sobre o que ocorreu e ocorre em vários países, sobretudo na Ucrânia.
Além da CIA, como os EUA atuam contra os governos de esquerda da América Latina?
Moniz Bandeira – Não se trata de uma questão ideológica, mas de governos que não se submetem às diretrizes de Washington. Uma potência mundial, como os EUA, é mais perigosa quando começa a perder a hegemonia do que quando expandia seu Império. E o monopólio que adquiriu após a II Guerra Mundial de produzir a moeda internacional de reserva – o dólar – está sendo desafiado pela China, Rússia e também o Brasil, que está associado a esses países na criação do banco internacional de desenvolvimento, como alternativa para o FMI, Banco Mundial etc.
Ademais, a presidenta Dilma Rousseff denunciou na ONU a espionagem da NSA, não comprou os aviões-caça dos EUA, mas da Suécia, não entregou o pré-sal às petrolíferas americanas e não se alinhou com os Estados Unidos em outras questões de política internacional, entre as quais a dos países da América Latina.
O governo da Venezuela tem denunciado a participação de Washington em tentativas de golpe. O mesmo poderia estar acontecendo em relação ao Brasil?
Moniz Bandeira – Evidentemente há atores, profissionais muito bem pagos, que atuam tanto na Venezuela, Argentina e Brasil, integrantes ou não de ONGs, a serviço da USAID, Now Endowment for Democracy (NED) e outras entidades americanas. Não sem razão o presidente Vladimir Putin determinou que todas as ONGs fossem registradas e indicassem a origem de seus recursos e como são gastos. O Brasil devia fazer algo semelhante. As demonstrações de 2013 e as últimas, contra a eleição da presidente Dilma Rousseff, não foram evidentemente espontâneas. Os atores, com o suporte externo, fomentam e encorajam a aguda luta de classe no Brasil, intensificada desde que um líder sindical, Lula, foi eleito presidente da República. Os jornais aqui na Alemanha salientaram que a maior parte dos que participaram das manifestações de domingo, dia 15, era gente da classe média alta para cima, dos endinheirados.
Que interesses de Washington seriam contrariados, pelo governo do PT, para justificar a participação da CIA e de grupos empresariais de direita, como os irmãos Koch (ramo petroleiro) , no financiamento de mobilizações contra Dilma? O pré-sal, por exemplo?
Manifestante em Brasília (Foto: Maíra Streit)

Moniz Bandeira – Grupos de direita estão no Brasil como em outros países. E despertaram com a crise econômica deflagrada em 2007-2008 e que até hoje permanece, em vários países, como o Brasil, onde irrompeu com mais atraso que na Europa. E a direita sempre foi fomentada pelos interesses de Wall Street e do complexo industrial nos EUA, que é ceifado pela corrupção, e onde a porta giratória – executivos de empresas/secretários do governo – nunca deixa de funcionar, em todas as administrações.
Há, entre os organizadores dos protestos, gente francamente favorável à privatização da Petrobras e das riquezas nacionais, com um evidente complexo de vira-latas diante dos interesses estrangeiros. Como analisar esse movimento à luz da história brasileira? De novo o nacionalismo versus entreguismo?
Moniz Bandeira – Está claro que, por trás da Operação Lava-Jato, o objetivo é desmoralizar a Petrobras e as empresas estatais, de modo a criar as condições para privatizá-las. Porém, estou certo de que as Forças Armadas não permitirão, não intervirão no processo político nem há fundamentos para golpe de Estado, mediante impeachment da presidenta Dilma Rousseff, contra a qual não há qualquer prova de corrupção, fraude eleitoral etc., elemento sempre usado na liturgia subversiva das entidades e líderes políticos que a USAID, NED e outras entidades dos EUA patrocinam.
Foto de capa: Carta Maio
Por Redação - http://www.revistaforum.com.br
2º Encontro Nacional pelo Direito à Comunicação
INSCRIÇÕES abertas para atividades autogestionadas

Entidades, coletivos, movimentos sociais, pesquisadores e ativistas autônomos poderão inscrever, até o dia 23/3, propostas de atividades autogestionadas para o 2º Encontro Nacional pelo Direito à Comunicação (ENDC). As atividades poderão ser temáticas (palestras, mesas-redondas, debates, oficinas, rodas de conversa e exposição de trabalhos acadêmicos) ou culturais (cênicas, musicais, performáticas, literárias e audiovisuais). Os interessados poderão inscrever suas propostas pela Internet (aqui)
As atividades autogestionadas acontecerão na tarde do sábado (11/4), entre 16h e 18h, e na manhã no domingo (12), entre 9h e 11h. Assim, poderão ser realizadas em um ou dois turnos, o que deverá ser informado na proposta. Grupos e pessoas autônomas poderão se unir para a proposição de atividades conjuntas.
A acolhida das propostas fica condicionada à infraestrutura do local do evento. Não havendo espaço suficiente para a realização de todas as atividades, a organização do Encontro entrará em contato com os(as) proponentes para viabilizar alternativas. Caso o número de proponentes seja superior à quantidade de salas disponíveis, a duração das atividades será limitada a até 2h.
Critérios e condições
Recursos financeiros, humanos, equipamentos e quaisquer outros materiais necessários à execução das propostas são de inteira responsabilidade dos(as) proponentes. À organização do Encontro caberá a cessão dos espaços físicos para a realização das atividades. A inscrição das propostas poderá ser feita até às 23h59 do dia 23 de março (segunda-feira). A organização entrará em contato com os(as) proponentes até o dia 31 de março.
Dúvidas devem ser encaminhadas para o e-mail: 2endcbh@gmail.com
2º ENDC
O 2º ENDC será realizado em Belo Horizonte-MG, entre os dias 10 e 12 de abril. Além de um importante momento para o intercâmbio entre grupos, movimentos e ativistas atuantes em favor da democratização da comunicação, o Encontro pretende ampliar os debates em torno do tema e mobilizar novos atores para essa causa. A iniciativa é do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), em parceria com entidades locais.
Interessados em participar do evento podem se inscrever pela internet (aqui).
Canais de comunicação do 2º ENDC
- Facebook
Fonte: FNDC
Netanyahu vence eleições em Israel e garante que não haverá Estado Palestino
O partido nacionalista Likud, liderado pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, ganhou as eleições parlamentares realizadas nesta terça-feira (17) em Israel. A vitória foi por uma boa margem de diferença sobre a coalizão de centro-esquerda União Sionista, cujo cabeça de chapa é o trabalhista Isaac Herzog.
Netanyahu já se reuniu com os líderes de vários partidos e tem a intenção de trabalhar imediatamente na formação do governo, para concluir esta tarefa em um prazo de duas a três semanas, afirma um comunicado do partido de direita do premier, o Likud.
"Contra todas as previsões, conseguimos uma grande vitória para o campo nacional sob a direção do Likud", disse o premiê para os simpatizantes em Tel Aviv. "Agora devemos construir um governo forte e estável", completou.
Afronta à comunidade internacional
O primeiro-ministro Benjamim Netanyahu afrontou a comunidade internacional
ao dizer que “enquanto eu (ele) for o líder não haverá um Estado
Palestino”. [1] Afronta porque a comunidade internacional continua a
apoiar a legitimação de um Estado Palestino. Dentre outros indícios,
vale lembrar a vitória de dois anos atrás quando a Palestina ganhou na
ONU o status de Estado observador não-membro. Apesar de fortes pressões
americanas e israelenses, naquela ocasião, a comunidade internacional
votou a favor do Estado Palestino, tendo votado contra apenas o Canadá e
a República Tcheca (além da Micronésia, do Nauru, do Panamá e das Ilhas
Maurício). Além disso, boa parte da opinião pública americana apoia a solução de dois Estados, ou ainda a resolução dos conflitos
através de um Estado onde coexistiriam judeus e palestinos. [2] Dito
isso, como é que Netanyahu ainda consegue boa margem de apoio político
dentre os israelenses e americanos conservadores?
Em parte o fenômeno se explica por duas causas. Em primeiro lugar,
pelo que o cientista politico Norman Finkelstein chamou de “Indústria do
Holocausto”. Neste trabalho, Finkelstein argumenta que o Estado de
Israel consegue legitimar seu belicismo e a ocupação dos territórios
palestinos ao acusar de antissemitas aqueles que se opõem à politica
externa de Israel. Nas palavras de Finkelstein, “o Estado de Israel usa o
Holocausto e o antissemitismo sempre que enfrenta internacionalmente
algum problema de relações públicas. É impossível atacar a política
externa israelense ou provar que o Holocausto foi explorado para ganhos
pessoais sem que se seja acusado de ser antissemita.” [3] Outra
explicação para a popularidade de Netanyahu é a crescente propaganda
sobre a periculosidade dos programas nucleares do Irã. A histeria
provocada rende votos e torna mais eloquente a retórica belicista do
primeiro-ministro, especialmente para ouvidos da extrema direita. Em
recente entrevista dada por Barak Obama à Reuters [4][5], o presidente
americano desfaz as mistificações de Netanyahu, e, de forma sensata,
argumenta que o melhor a fazer é tornar transparente e paralisar o
programa nuclear iraniano em troca do alívio de sanções econômicas.Como se sabe, o Congresso Americano é formado por maioria republicana. Não é de se estranhar que a recente visita de Netanyahu aos EUA tenha servido de comício para o israelense, aumentando sua popularidade dias antes das eleições em Israel. Boa sorte para Issac Herzog, líder e candidato da oposição, que até pouco tempo era um mero desconhecido internacionalmente, mas que ainda assim poderá retomar o diálogo com outros países que não sejam os tradicionais aliados de Israel. [6]
Para informações relacionadas às afirmações deste texto, ver os artigos abaixo:
[1] http://www.haaretz.com/news/israel-election-2015/1.647212, acesso em 15/3/2015.
[2] http://www.brookings.edu/~/media/research/files/reports/2014/12/05-american-opinion-poll-israeli-palestinian-conflict-telhami/israel_palestine_key_findings_telhami_final.pdf, acesso em 15/3/2015.
[3] http://www.revistaforum.com.br/frivoloeprofundo/2013/08/05/norman-finkelstein-uma-gangue-de-malandros-e-canalhas-se-enriqueceu-usando-o-sofrimento-o-martirio-e-a-morte-de-milhares-de-judeus/, acesso em 15/3/2015.
[4] https://www.youtube.com/watch?v=qrJGNBFDs0g, acesso em 15/3/2015.
[5] http://www.reuters.com/article/2015/03/02/us-usa-obama-transcript-idUSKBN0LY2J820150302, acesso em 15/3/2015.
[6] http://www.prospectmagazine.co.uk/world/israeli-elections-what-happens-if-herzog-wins, acesso em 15/3/2015.
terça-feira, 17 de março de 2015
sábado, 14 de março de 2015
Ética: Democracia nos meios de comunicação?
por Clóvis de Barros Filho

Em maio de 2014, a Relatoria Especial para a
Liberdade de Expressão da América Latina, uma comissão especial da Organização
dos Estados Americanos (OEA), com sede nos Esta Unidos, condenou a ausência de
um marco regulatório no Brasil e apontou os problemas sociais e políticos que o
monopólio das empresas de rádio e televisão produziram nos últimos cinquenta
anos. A Associação Brasileira dos Jornalistas (ABJ) tem denunciado as
manipulações e as censuras impostas pelos donos dos meios de comunicação e há
mais de trinta anos cobra do poder executivo e legislativo a regulação e a
democratização da imprensa.
Porém, a elite proíbe qualquer tipo de debate
público sobre o assunto na mídia ou no Congresso. Taxam os defensores de uma
revisão das leis de meios de rótulos absurdos como "bolivarianos",
"comunistas" e "ditadores". Paradoxalmente, somos a única
democracia do mundo que não regula e socializa a produção da informação - o que
tecnicamente nos torna uma democracia fragilizada.
As ondas Hertz de rádio e televisão utilizam uma
frequência em nossa atmosfera para transmitir seus sinais de comunicação. Como
a atmosfera é uma propriedade social limitada, que não pode ser cercada ou
distribuída para todos, ela constitui um bem público administrado pelo Estado
em qualquer lugar do planeta. Cada sociedade estipula as regras básicas de
concessão das bandas de transmissão para as empresas de comunicação, recebendo
em contrapartida um pagamento pelo uso deste recurso. No Brasil, estas faixas
de frequência de rádio e televisão foram dadas para as poucas famílias que
juraram lealdade aos golpistas civis e militares há quase cinquenta anos. Estas
famílias reivindicam a posse irrevogável e hereditária destas frequências, além
de pagar uma quantia irrisória pelo seu uso.
Até hoje é preciso pedir autorização para
deputados, ministros e para o presidente para poder transmitir ondas de rádio e
televisão. Os atuais donos destas mídias se recusam a ceder suas frequências,
nem se comprometem a prestar serviços relevantes para a sociedade. Com o Marco
Regulatório, as faixas de frequência de rádio e televisão serão, a cada dez anos,
leiloadas para os empresários que se dispuserem a pagar mais pela frequência.
Essa medida garante maior liberdade para organizações sociais e empresariais
terem seu espaço de comunicação sem precisar corromper políticos, garantindo
pluralidade de mídias e um retorno social considerável em termos financeiros e
de produção de conteúdo que atenda às necessidades regionais.
Outro problema ainda mais grave é a distribuição da
mídia impressa em nosso país. Em teoria, qualquer pessoa pode criar um jornal ou
revista e vendê-lo. Porém, na prática, isso não ocorre, pois somente um grupo
familiar detém 100% das distribuições de jornais e revistas em todas as bancas
do país1. Somos a única democracia do mundo que permite o monopólio
de oferta e comercialização de impressos. Ironicamente, as revistas que
pertencem ao grupo editorial que mantém esse monopólio classificam as
tentativas de regulamentação de "políticas ditatoriais".
Há ainda uma lista imensa de outros motivos para
que todos os cidadãos apoiem os congressistas e a presidente da República na
árdua tarefa de aprovar o Marco Regulatório dos Meios de Comunicação. Temos que
brigar pelo fim do clientelismo político- midiático criado pela ditadura, pela
democratização do uso dos meios de comunicação de massa, pelo fim das
oligarquias e monopólios na imprensa e por critérios transparentes e justos na
oferta de frequências de rádio e televisão. Não podemos mais aceitar estes
fantasmas do passado que ainda ameaçam a democracia.
Como professor de Ética na Comunicação, peço para
os meus colegas e ex-alunos que trabalham em revistas, rádios e na televisão
que parem de reproduzir as mentiras relacionando a regulamentação à
"ditadura" e à "censura". Tomem consciência e tenham culhão
para enfrentar seus patrões. Apoiem publicamente, no rádio e na televisão, a
criação do Marco Regulatório. A história te aplaude, a democracia agradece.
1 A Treelog S/A é a única empresa do Brasil responsável por distribuir jornais, revistas e livros para as bancas. Ela é de propriedade da família Civita, dona do Grupo Abril Editorial.
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