segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Eu era a tua poesia

És parecida com a Terra. Essa é a tua beleza.
Era assim que dizias.
E quando nos beijávamos e eu perdia respiração e,
entre suspiros, perguntava: em que dia nasceste?
E me respondias, voz trémula:
estou nascendo agora.

E a tua mão ascendia
por entre o vão das minhas pernas
e eu voltava a perguntar: onde nasceste?
E tu, quase sem voz, respondias:
estou nascendo em ti, meu amor.

Era assim que dizias.
Tu eras um poeta
Eu era a tua poesia.

(Mia Couto)

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