O envolvimento do ex-ministro da Casa Civil do governo Lula, José Dirceu, nos crimes denunciados pela Lava Jato é um duro golpe no PT e para a esquerda em geral. A gente até gostaria e torce para que as denúncias não passem de perseguições políticas, retaliações ou armação organizada pelos tucanos.
Mas os fatos são consistentes.
Além de receber 1,1 milhão de reais da construtora Engevix, José Dirceu teria obtido outro 1,4 milhão da Jamp, cujas movimentações apareceram em uma fase anterior da operação.
Mas Dirceu inda tem mais com o que se preocupar. As delações do presidente da UTC, Ricardo Pessoa, apontado como coordenador do cartel de empreiteiras, e do operador de propina da Engevix, Milton Pascowitch, apontam outros pagamentos de 3,2 milhões de reais à JD, empresa de Dirceu.
Segundo o delator, trata-se de propina em pagamentos feitos a vários políticos, entres estes o ministro Aloisio Mercadante e José de Filippi, do PT; o senador Aloysio Nunes, do PSDB, vice de Aécio Neves na última disputa presidencial, e Júlio Delgado, do PSB, candidato derrotado por Eduardo Cunha à presidência da Câmara dos Deputados.
As acusações ainda terão de ser provadas. Os envolvidos negam irregularidades, afirmando que as doações foram legais.
Em nota publicada no blog de Dirceu, o advogado Roberto Podval lista quatro pontos para rebater as afirmações de Pascowitch. Segundo ele, o ex-ministro não teve qualquer influência na indicação de Duque e a relação da Jamp com a JD seria resultado de uma consultoria prestada no Peru. A informação, salienta a nota, é corroborada pelo presidente do Conselho da Engevix, Cristiano Kok, e pelo ex-vice-presidente, Gerson Almada, preso na fase Juízo Final da Lava Jato. Embora citado na nota como delator, Almada não assinou um acordo com a Justiça Federal, mas confirmou serem os pagamentos da Engevix a Dirceu referentes ao “lobby” exercido pelo ex-ministro.
Os advogados denunciam, também, o “método” das autoridades da Lava Jato que subvertem a Constituição Federal, pois, prendem para apurar e processar, sem levar em consideração a presunção de inocência.
Porém, uma velha lição fica dessas práticas comuns ao mundo da política: elas são privilégios para os políticos da direita, que têm imunidade judicial. Para a esquerda, não basta ser honesto, é preciso, como a mulher de César, demonstrar, a cada minuto que se é honesto. O inimigo de classe não combate de frente, ele golpeia pelas costas, fragiliza e enfraquece, aproveitando-se dos vacilos e dos nossos erros.
E os "companheiros", com essas nebulosidades éticas, facilitam o trabalho da direita e enfraquecem, no momento, as perspectivas emancipatórias. Fortalecem as campanhas sórdidas da "Veja", "Globo", "Época", "Isto É", "Estado de São Paulo", "Folha" e toda a mídia empresarial que se esbalda em farto noticiário panfletário, deformado e deturpado, pautando os discursos e as práticas da oposição e de muitos magistrados.
Não só o PT, mas o conjunto da esquerda brasileira, também, recebe o impacto das denúncias e das prisões e, por isso, precisa refletir com profundidade, recusar, rejeitar e criticar de maneira clara e insofismável a inflexão do petismo ao submundo das negociatas, para resgatar um novo projeto nacional de desenvolvimento que vá mais além da mera administração dos condomínios do capital.
Que não sejam verdadeiras as denúncias, apesar dos fatos, é o nosso desejo; rejeitar e denunciar o esquema golpista em curso, deve ser nossa postura, mas devemos ser capazes de enxergamos a floresta que há depois da árvore para, mais uma vez, refazer a esperança e reinventar o novo, no pressuposto de se alcançar marcos civilizatórios mais elevados para o nosso País. E que a justiça não seja seletiva, alcançando apenas os denunciados do PT, que se cumpra a lei para todos, com o mesmo rigor.
*Sebastião Soares, filósofo, jornalista, educador social e consultor.